Do ponto de vista energético, a biomassa pode ser entendida como a “fração biodegradável dos produtos e resíduos da agricultura (incluindo substâncias vegetais e animais), floresta e indústrias conexas, bem como a fração biodegradável dos resíduos industriais e urbanos” (European Parliament Council, 2001) que pode ser utilizada para produção de energia.
Por outro lado, e mesmo sendo esta definição bastante útil em termos do significado prático do conceito, uma definição mais esclarecedora da origem científica do termo seria dizer que a biomassa abrange todo o material biológico contemporâneo (não fóssil) que tem origem na conversão de energia solar em matéria vegetal, através da fotossíntese (McKendry, 2002; Vassilev, Baxter, Andersen, & Vassileva, 2010; Zhang, Xu, & Champagne, 2010)
De facto, a biomassa não é mais que uma forma de armazenar a energia do sol, pois toda ela tem origem na captação da energia dos raios solares pela clorofila das plantas durante a fotossíntese. Apesar da eficiência global do processo de conversão ser bastante baixa (cerca de 1%) (McKendry, 2002), a natureza deu resposta a duas questões chave associadas ao aproveitamento da energia solar: em primeiro lugar, como captar a energia quando ela se encontra disponível e, depois, como armazena-la para que possa ser usada quando o sol não brilha.
Efetivamente, é através da fotossíntese que as plantas convertem o dióxido de carbono presente na atmosfera e a água absorvida pelas raízes em matéria orgânica que irá dar origem à estrutura da planta em si. Pode dizer-se, então, que a energia do sol é concentrada e armazenada nas ligações químicas dos componentes estruturais das plantas (caules, troncos, etc.), podendo ser novamente libertada quando as ligações entre as moléculas adjacentes de carbono, oxigénio e hidrogénio são quebradas por processos biológicos ou termoquímicos de conversão (digestão anaeróbia, fermentação, combustão, gaseificação, pirólise) (McKendry, 2002).
A outra condicionante fundamental ultrapassada pelo engenho da natureza foi a das emissões de GEE, uma vez que o carbono orgânico libertado durante a conversão da biomassa é reciclado através do ciclo biogeoquímico do carbono. Neste processo, o CO2 absorvido durante o crescimento das plantas é simplesmente devolvido à atmosfera, pelo que em termos gerais se considera que a bioenergia é neutra em termos carbónicos e não contribui para o aumento concentração deste gás na atmosfera. É a capacidade fotossintética das plantas que lhes confere a designação de neutralidade carbónica, significando apenas que não é introduzido qualquer “carbono novo” na atmosfera.
Porém, não é totalmente correto classificar a bioenergia de “limpa”, uma vez que existem alguns problemas de natureza ambiental relacionados com a sua exploração que ainda não foram resolvidos. A produção e transporte de biomassa, por exemplo, requerem frequentemente inputs de energia não renovável (combustíveis fósseis) e podem, também, estar associados a problemas de degradação dos solos e dos recursos hídricos.